data-filename="retriever" style="width: 100%;">Foto: Aldo dos Santos (Arquivo Pessoal)
Abelhas são encontradas mortas em caixas, em pelo menos duas cidades da Região
Produtores de pelo menos dois municípios da Região registraram mortandade de abelhas na última semana. Em São Gabriel e Santa Margarida do Sul, relatos nas redes sociais e registros junto ao Batalhão Ambiental da Brigada Militar mostram que o problema - que já aconteceu em anos anteriores - está de volta.
É o caso do apicultor Aldo Machado dos Santos, que mantém cerca de 550 caixas de abelhas em mais de 1.000 hectares de floresta de eucalipto. Na tarde da última quinta-feira, quando ele foi verificar as caixas, percebeu que muitas das abelhas estavam dormentes, sem capacidade de voar e se defender, e parte delas já estava morta. Por enquanto, o apicultor estima que pouco mais de 100 caixas foram atingidas. Mas, com o passar dos dias, segundo ele, o prejuízo pode aumentar:
- É a nossa principal fonte de renda. Nós só vivemos da apicultura, eu, minha família e a família do meu filho - relata ele.
Aldo procurou a Inspetoria Veterinária do município e também o Batalhão Ambiental da Brigada Militar de São Gabriel, onde registrou o ocorrido. Este último órgão também foi onde Vanderley Cruz Rodrigues Júnior, de Linha Lajeado, interior de Santa Margarida do Sul, fez registro de problema similar. Ele tem cerca de 75 caixas de abelhas, das quais 18 foram atingidas pela mortandade na última semana. Trabalhando com a apicultura desde 2009, em pouco mais de 10 anos ele já sofreu com o problema mais de uma vez. Em 2013, lembra, mais de 360 caixas dele e dos vizinhos próximos ficaram destruídas. O prazo para que a vida nas caixas seja refeita e as abelhas voltem a produzir varia entre um ano e meio e dois anos, explicam os dois apicultores.
- Quando começa a preparação das lavouras, acredito que o pessoal usa de forma incorreta inseticidas junto com herbicidas. Como já tem flores, a partir de agora, mesmo que o pico seja na primavera, tem abelhas que acabam indo contaminadas para dentro das colmeias e matam o enxame todo - conta Aldo.
Para o agrônomo e pesquisador da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Jerson Guedes, é preciso ter cuidado para identificar a causa da mortandade. A maneira mais segura de determinar se há relação entre o uso incorreto de defensivos agrícolas e a mortandade é examinando parte dos insetos atingidos, para verificar se há resíduos de produtos tóxicos neles. Foi o que aconteceu em 2019, quando o Laboratório de Análise de Resíduos de Pesticidas (Larp) concluiu que a causa da morte de mais de 300 caixas de abelha no interior era a alta concentração de agrotóxicos nos insetos.
IMPORTÂNCIA DAS COLMEIAS
O professor Jerson Guedes explica que as abelhas são fundamentais na polinização de algumas culturas:
- Na soja e milho, elas não tem tanta importância, mas em frutíferas, sim. Aqui no Brasil, no Nordeste, tem a chamada apicultura migratória ou móvel. Ali o apicultor vende um serviço, ele leva suas abelhas em colmeias fechadas, em caminhões, para locais onde há frutas. Maracujá, por exemplo. O mesmo acontece em partes do Estados Unidos, principalmente na Califórnia.
Já a Associação Brasileira de Estudos das Abelhas (ABELHA) explica que, no Brasil, a falta de estudos universitários sobre o tema dificulta estimar a importância econômica desses insetos na polinização de culturas, inclusive as comerciais. Nos Estados Unidos, o serviço das abelhas nativas na polinização de lavouras tem um valor estimado na cada dos bilhões de dólares todos os anos.
*Colaborou Chaiane Appelt